Não. Nada disso. A mãe entra em desespero, rezando a um deus tolo e idiota, que adora fazer piadas de mal-gosto, perguntando a ele o porquê daquilo.
Esse foi o início da vida de Joshua. Décimo oitavo filho de um agricultor alcóolatra e mãe fugitiva da polícia, a mãe não teve dúvidas de jogar o filho verde, escamoso, com guelras e olhos negros saltados longe ao vê-lo ainda ligado ao cordão umbilical. O pai teve ímpetos de findar a vida do pequenino ali, naquele momento, mas, num raro momento de lucidez, ele acolheu o garoto. Cortando os laços da mãe com um canivete enferrujado, esquentou o garoto, enrolando-o numa manta que servia de cama para um velho e sarnento cão de guarda banguela e cego.
A vida era dura, mas o pai tratava de fazer com que todos o tratassem bem. sua mãe nunca lhe disse uma palavra afetuosa. Nunca batizara o filho, que era chamado de Joshua pelo pai (que diminuiu significamente a quantidade de álcool), nem mesmo lhe afagava.
O garoto crescia três vezes mais rápido que os outros, e aos dez anos já podia erguer o trator com uma mão só. Comia pouco, dividindo a escassa comida com os irmãos pequenos e doentes. Perdera seis deles numa forte tempestade, após serem atingidos por um grande pedaço do telhado, enquanto Joshua protegia os outros. Mas o destino é cruel, e logo deu fim a mais oito, de uma doença que eles não conheciam.
A colheita era pouca, mas sustentaria a família menor. O garoto era mais responsável que os outros, protegendo a propriedade e evitando sair, para não chamar atenção.
Um dia, Deus resolveu fazer uma nova piada. O pai de Joshua não acordou mais. Simples assim. Algo lhe aconteceu durante o sono, que o levou para nunca mais voltar. Sua mãe o culpou, e começou a bater nele. Primeiro foi com a mão, mas ela se machucou em suas escamas. Depois, com o velho chinelo de borracha, cinto, cabo de vassoura. Nada atravessava as grossas escamas e a poderosa musculatura do garoto.
Mas ela foi além. Pegou o arado e rasgou-lhe as costas. Foi a primeira vez que Joshua sentiu dor em sua vida. Por instinto, girou o corpo, deixando o braço acertar o que estivesse no caminho...
...Que era a sua maldita mãe.
Balas choveram das armas dos irmãos mais velhos. Mas nada o feria. Os três foram mortos em sua fúria. Quando a raiva passou, o garoto, com quinze anos, chorou. Seus olhos negros ardiam, pois a pele estava seca demais. Precisava ir para o rio, para longe dali.
Pegou o corpo do pai e o enterrou junto com os irmãos falecidos no acidente e na doença. Deixou a mãe ali, despedaçada, jogada a um canto, assim como ela fizera com ele ao nascer.
Correndo com toda sua velocidade, o garoto se livrou das roupas e se jogou nos braços calorosos da água. Deixou-se levar pela correnteza, e chegou ao mar. Seu corpo era perfeitamente adaptado à vida marinha, então decidiu esquecer que era humano.
Aprendeu a viver sozinho, caçando peixes, cercando seu território, livrando-se de curiosos. Vez ou outra ia para a praia de noite, para ver a lua e as estrelas. Sonhava com um lugar onde poderia viver em paz de uma vez por todas, um lugar onde estaria seu pai e seus irmãos pequenos.
Foi quando o pálido chegou. Aquele ser veio ao seu território submarino, falando dentro de sua cabeça. Disse que podia lhe ajudar, dar uma vida melhor ao garoto, num lugar onde ele não seria visto como aberração.
Duvidou das palavras do ser branco, mas não tinha mais nada a perder. Ele foi levado para uma casa estrava, escura, o ar carregado de um cheiro de ferro. O mesmo cheiro das áreas dos tubarões.
Uma garota o esperava. Era pequena, esguia, com cabelos tão negros como o abismo marinho. Ela estendeu a mão, e Joshua aceitou. As sombras pareceram pular da parede, como os tentáculos de um polvo gigantesco. Sentiu seu corpo expandindo, contraindo, esticando e sendo puxado para todos os lados ou mesmo tempo. Seus gritos de dor ecoavam dentro de sua cabeça, e então tudo acabou.
Quando acordou, estava dentro de um tanque de vidro muito grande. Dois tubarões o cercavam, receosos. Uma lâmina fez um pequeno corte em sua pele, e o sangue atiçou os instintos dos animais.
Joshua gritou para que parassem. E os animais pararam. Ele não entendia como, mas conseguia fazer com que os animais o entendesse. Ele viu o ser branco de novo, e um nome veio à sua mente: Satânico.
Desde aquele dia, Abissal serve ao demônio em gratidão. Foi ele que o trouxe para a civilização, que lhe tirou a idéia de aberração. Ele era um mutante. Fazia parte de uma raça. Ele era alguém.
- Interpretação: Abissal é uma criança ainda. Por mais que seu corpo fale que não, ele é apenas um ófão de quinze anos. Teme que seus poderes machuquem sua nova família (Satânico, Sombria, Viper, Destroyer e Lupina). May é como uma irmã mais velha, cuidando dele nas horas mais difíceis. Já Satânico é um mestre cruel, mas justo. Ele lhe ensinou tudo o que sabe hoje, e sempre irá ser grato. Detesta Atlas tanto quanto seu mestre, e adoraria ser imune ao poder do mutante...
- Poderes: Abissal é virtualmente imune à dano concusivo. Apenas balas de alto calibre fazem algum efeito. Pode suportar pressões incríveis, e é tão forte quanto um touro (mas Destroyer ainda é mais forte). Os rituais executados por Satânico e May deram ao garoto a capacidade de falar com animais marinhos e comandá-los, além de um tipo de sonar, igual ao dos morcegos, que lhe ajudam a enxergar fora d’água. Em ambiente marinho, Abissal é tão veloz quanto um tubarão, já que seu corpo é completamente adaptado ao meio aquático.
- Fraqueza: Abissal não pode ficar mais do que duas horas fora d’água. Antigamente conseguia ficar até oito ou dez horas, mas a vida no mar e os rituais aumentaram essa dependência.
- Aparência: Joshua tem quinze anos, dois metros e noventa (mas anda um pouco curvado, parecendo menor), corpo coberto por escamas verdes e brilhantes como as de um peixe. Tos olhos são totalmente negros, com pálpebras verticais. Não possui nariz nem lábios, e a boca é exageradamente grande. Sua boca parece com a de um tubarão, com cinco fileiras de dentes, que podem sair e ficar presa no alvo de uma mordida (isso é, se o alvo não perder o membro!). Os dedos são ligados por uma fina membrana, e pussui barbatanas nos antebraços e pernas, além de uma maior que vai do topo da cabeça até o fim da cauda. Pescoço, peito e parte interior da cauda não são protegidos por escamas, mas por um couro muito resistente.
- Detalhes: Joshua é inocente, de vontade fraca. De fácil manipulação, acha que o grupo de Satânico o quer como um parente. Para eles, é melhor cuidar bem do garoto. Porquê maltratar um bom soldado?Abissal também tem certos problemas de humor. Quando fica com muita raiva, perde o controle e vira um monstro sedento de sangue. Ele teme que isso aconteça.
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